"Acreditem se quiser!" (acho que já ouvi isto antes).
O ano nem sempre foi como nós o conhecemos agora. Por exemplo: no antigo calendário romano, Abril era o segundo mês do ano. E na França, até meados do século XVI, Abril era o primeiro mês. Como havia o hábito de dar presentes no começo de cada ano, o primeiro dia de Abril era, para os franceses da época, o que o Natal é para nós hoje, um dia de alegrias, salvo para quem ganhava meias ou uma água de colônia barata. Com a introdução do Calendário Gregoriano, em 1564, primeiro de Janeiro passou a ser o primeiro dia do ano e, portanto, o dia dos presentes. E primeiro de Abril passou a ser um falso Natal - o dia de não ganhar mais nada. Por extensão, o dia de ser iludido. Por extensão o Dia da Mentira.
VOCÊ ACREDITOU NESSA?
Há outra. No Hemisfério Norte, onde tudo é o contrário do Hemisfério Sul - inclusive, em muitos países, corrupto vai pra cadeia, imagine! -, a Primavera está no auge em Abril. "Abril" viria, mesmo, do latim "Aprilis", que viria de "Aperire", ou "Abrir", pois a Primavera é a estação em que os botões se abrem, tanto das flores quanto das roupas, e o pólen está no ar, e as abelhas voam, e os camponeses correm atrás das camponesas e, como se não bastassem toda esta confusão, os alérgicos espirram e os pássaros cantam. Um dos primeiros pássaros a cantar a chegada da primavera é o cuco, cuja característica é imitar a voz dos outros pássaros, tanto que os assim chamados relógios-cucos não deveriam ter este nome, já que o que o passarinho canta quando sai da janelinha nunca é o seu próprio canto, é plágio. O primeiro dia de Abril, na Europa, portanto, o Dia do Cuco, que saia do seu ninho para espalhar a discórdia, já que uma ora imitava um pássaro, ora imitava outro. E a todas estas horas os camponeses voavam, as abelhas perseguiam os camponeses pelos campos e os alérgicos floriam e as flores espirravam e os padres mandavam parar esta pouca-vergonha, já! E matem aquele cuco. Primeiro de Abril era o dia do cuco. O cuco é um pássaro mentiroso. Aliás, até hoje, ninguém, fora alguns parentes mais chegados, sabe como é o canto real de um cuco, já que ele sempre canta como outro. Logo, primeiro de Abril ficou como o dia dos mentirosos.
ESSA CONVENCEU?
Aqui vai outra. Na verdade tudo vem da Índia, onde desde tempos imemoriáveis existe o Festival de Huli, uma festa que dura um mês e que tudo é ao contrário, tanto que ela começa no dia 30 de Abril e termina no dia primeiro, quando as pessoas entram em suas casas, de costas e começam a preparar a festa que já houve. O último dia do Festival de Huli é reservado para o "Vahila", que em sânscrito quer dizer "Tirar um Sarro", que é quando as pessoas recebem incumbências absurdas, como - isto já na época do domínio britânico - levantar a saia da estátua da rainha Vitória para ver se a calcinha também era de bronze. Foram, aliás, os ingleses que levaram a tradição do Huli para a Europa, junto com o curry e a malária.
Uma destas é a verdadeira origem do primeiro de Abril. Mas, claro, isto também pode ser mentira...
depois teclamos.
Este conto faz parte do livro "As Mentiras que os Homens Contam", de Luís Fernando Veríssimo. Este gentilmente emprestado (desde o ano passado, já vou devolver, eu juro!) por Gustavo.
Imagem de: flickr.com (Maria Eugênia M. Guimarães).
3 comentários:
KKKK
Faz sentido.
É um ótimo argumento.
Abraços
Hahahaha ... esta foi boa.. gostaria de convidá-lo a conhecer meu trabalho através do blog Ecos do Teleco Teço (WWW.ECOSDOTELECOTECO.BLOGSPOT.COM) . Grande abraço e sucesso com sua proposta !! Axé
Muito bom esse livro... não canso de ler. Pra variar, comprei também o audiobook... agora nao preciso mais ler esse livro... o Bruno Mazzeo lê pra mim, numa perfeita narração.
[]'s
Snd®
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