Elis, cresceu sem conhecer o seu pai. Foi criada pela mãe e tias, porém isso nunca a fez ter algum tipo de crise. Afinal, sempre foi assim, sem pai. Não houve a dor da perda, apenas nunca o teve. Cresceu, estudou, se formou. Por estes dias, viajou a trabalho para Murió na Bahia, para um congresso de design de interiores. No hall do hotel, ela queria saber o horário do jantar. Viu um fincionário e foi tirar a dúvida. Ao olhá-lo de cabelos grisalhos, teve uma sensação que já o tinha visto antes. O tal funcionário respondeu a pergunta, mas Elis não ouviu direito, pois estava tentando recordar quem era aquele senhor. Ela agradeceu a resposta e foi andando para o quarto quando teve um estalo de memória. O funcionário parecia a foto (única) 3x4 de seu pai, que sua mãe um dia lhe mostrou. Bobeira, achou que podia conhecê-lo, porém era apenas uma vaga semelhança. No dia seguinte, Elis andando entre os corredores do hotel, viu o funcionário novamente, foi até ele e disse: "Engraçado, o senhor lembra o meu pai numa foto." O funcionário reage apenas levantando uma sobrancelha. Ela procura o nome dele pela lapela e vê um pequeno broche escrito: Edvo. "Meu deus! Parecido com meu pai, e ainda homônimo?" (Exclamou e perguntou em voz alta). O fucnionário Edvo sai andando com a mesma sobrancelha alta, enquanto Elis fica parada tentando juntar os cacos. Ela pede para ele esperar e indaga." O senhor morou em Bonsucesso na década de 70?" Ele concorda timidamente. Não há dúvida, pai e filha. Ela o chama pra dentro do quarto, sentam na cama e ela segura sua mão.
"Pai o senhor aqui no litoral da Bahia, num hotel? O que aconteceu nestes anos? Porque abandonou minha mãe?"
"Senhorita Elis, não gosto de família, larguei sua mãe grávida porque nunca quis ter família, não quero lastros."
"Pai, quero conhecer sua família daqui, posso?"
"Não tenho família, repito. Saí do Rj em 77, morei 6 anos em Curitiba. Parti de lá também porque a moça com quem me envolvi queria ter filhos. Acho que até teve. Fui para Goiás, morei lá até 90, mas tive problemas. Como disse, não me apego nem gosto que se apeguem a mim. Estou aqui no litoral da Bahia a quase vinte anos, sozinho. Sem família!"
"Nossa pai, o senhor é um cavaleiro andante mesmo. Tem mais filhos?'
" Como lhe disse senhora Elis, saí das cidades onde morava por causa de filhos e por quererem constituir um lar comigo, não gosto."
"Pai, o senho é fogo! Muito sapequinha né. Engravidando as menininhas. Minha mãe não gosta de falar do senhor."
" Sabia que a Iara não ia me entender."
"Seu esquecidinho, é Ivone o nome da minha mãe!"
" Bom senhorita Eliz, tenho que ir. Não é minha função entrar em quarto de hóspedes,"
Elis puxa o puxa e dá-lhe um abraço forte. Ele responde com 2 tapinhas nas costas e sai. Ela nem dormiu pensando em contar sua vida para ele, mostrar as fotos da família e até ligou para a mãe de madrugada. Dona Ivone, mandou combrar-lhe os 130 cruzeiros que ele levou quando fujiu de casa. No dia seguinte, Elis afobada, procura no hotel pelo seu pai e não o encontra. Vai a recepção e procura pelo sr. Edvo e é informada que ele pediu demissão na noite anterior e que não era mais funcionário da instituição. Elis, ainda inebriada pelo encontro pensou: " Meu pai é um andarilho, se vira bem em qualquer lugar. Um homem de alma aventureira e livre!" Em uma rodoviária perto dali, um ônibus partia rumo a Belém com uma senhora grávida a xingar da rua um passageiro.
A carência embriaga a dura realidade.
Um abraço e um uísque pra nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário